terça-feira, 13 de março de 2007

UM OUTRO OLHAR SOBRE O PORTINHO

Por Celestino Ribeiro



Um pescador.
Um pescador Ancorense olha o mar, olha o céu.
Conhece bem o sítio onde vive e o largo mar onde trabalha. Esta qualidade fez- lhe adquirir um saber misterioso.
O seu olhar não poisa noutro lugar. Daqui, do Portinho, olha o mar, olha o céu.
O mar , agora, está baixo, calmo e baixo, na tarde que se aninha em direcção ao poente. O sol já tomba sobre um horizonte pintado de púrpura, os raios em desmaio acenam em jeito de despedida. E na esteira de fogo que se desenha sobre a superfície estanhada do mar, o dia fenece silencioso.
O homem, o pescador Ancorense, sorri. À memória acode- lhe o rifão: “ VERMELHO AO MAR, VELHINHAS A ASSOLHAR”. Amanhã vai fazer bom tempo. E recolhe com satisfação ao barco que o espera baloiçando suavemente amarrado ao cais.
A noite cai serena. As peças da sardinha mergulhadas na água acendem um clarão fluorescente , translúcido, ao serem puxadas para bordo da embarcação. Arde o mar profundo na noite , denunciando o movimento das suas criaturas, as artes de pesca quando a força dos homens e das correntes as agitam. É um fenómeno observado numa parte do ano, quando os dias crescem e as noites encolhem. “ Já pinta” diz o pescador.
A rede vem cheia de sardinha. No céu , um crescente de lua sobe. Está de pé , como uma sentinela vigilante. O pescador olha o céu. O olhar alegra- se. Pode carregar a embarcação, que a calma vai manter- se pois, “ LUA EM PÉ, MARINHEIRO DEITADO “ . Sim, pode ficar descansado o nosso pescador, porque este sinal lhe assegura uma noite bonançosa e um dia seguinte de bom tempo.
Ah ! É Junho, é mês de S. João. E lá diz o velhinho provérbio: “ PELO S. JOÃO, PINGA A SARDINHA NO PÃO”. Sardinha assada nas brasas duma fogueira ateada ao pé da porta da casa do pescador. Que odor apetitoso se espalha, que sabor sobre um pedaço de broa e regada com o tinto imaculado do vale de Âncora. Ah ! A sardinha assada, um pouco de nostalgia, um costume herdado pelo nosso pescador da sua Galiza ancestral.
Agora já é um dia de Julho. A manhã acordou algo cinzenta. O vento é sul moderado. O homem, o pescador Ancorense olha o mar, olha o céu. Está debruçado sobre um vaso pintado cor de prata da balaustrada da avenida marginal. Não desanima : “ SUL ARRASTADOR , NORTE PESCADOR”. Mas há mais nesta época estival: “ SUL DE MANHÃ , NO VERÃO, À NOITE REMO NA MÃO “. Apesar deste vento sul que arrasta nuvens e encobrem o céu, a noite será calma e boa para a pesca.
Outro dia. Corre hoje um mar indefinido cinza- esverdeado à luz duma meia manhã , nuvens esparsas em altitude. Um fundo escuro roçando o horizonte norte. O pescador perscruta esse horizonte distante e recorda o provérbio: “ NORTE ESCURO, SUL SEGURO” . Dali a algumas horas, já de regresso ao Portinho que lhe fica a leste, rema desde a “ Beirada de Fora “ - uma depressão de afloramento rochoso da plataforma continental – quando vislumbra um outro sinal atmosférico sobre o cone do monte de Sta. Trega ( Tecla ) , e não duvida : “STA. TREGA COM CAPELO, CHOVE LOGO OU VENTA CEDO “ .
Com efeito, a meia distância do Portinho, uma ligeira brisa de sul começa a soprar. O homem, o pescador Ancorense, iça a vela e os remos descansam. A surreada ( saraivada de água da ondulação contra a borda da embarcação ) à mistura com a chegada das primeiras precipitações, recebem o nosso homem, o pescador Ancorense, no Sabugo à entrada do ancoradouro do Portinho.
Já a lua da noite anterior prenunciava uma mudança atmosférica. A meia- lua bem destacada no céu em forma de berço dava razão ao adágio: “ LUA DEITADA , MARINHEIRO EM PÉ “. E, ainda, o círculo anelar que a circunscrevia confirmava : “ LUA COM ANEL, CHUVA OU VENTO A GRANEL” . Mais, o céu daquela manhã revestia- se de cirros que não enganavam : “ CÉU ESCAMENTO, OU CHUVA OU VENTO” .
Não é marinheiro o que não olha para o mar e para o céu. O homem do mar conhece a natureza, os elementos do seu universo e do seu campo de actividade. O mar traz- lhe as notícias antecipadas de outras latitudes e de outras longitudes, pelo modo distinto da agitação do seu dorso e o impulso ora revolto , ora suave , das suas ondas.
Conjugado com o aspecto do mar, o céu traz- lhe sinais inequívocos que aprendeu a decifrar. As embarcações à vela de outros tempos, exigiam o olhar atento para o alto, para os aparelhos , os mastros, o massame e o poleame. Mas também para os sinais impressos na abóbada celeste. É por isso que na gíria marítima se diz que “O PORCO NÃO FOI MARINHEIRO, POR NÃO OLHAR PARA O AR “.
Com coisas simples como estas, com esta pedagogia se formava e conformava um pescador crente nas suas tradições e conhecimento empírico. Este é um pequenino exemplo de um universo ainda por explorar.
E o pescador, o pescador Ancorense, deixando a sua gamela varada no Portinho, voltou o seu olhar mais uma vez para o mar, para o céu , e deixou- se perder em pensamentos de regresso a casa.

REQUIEM PELO “LAGOA”


Por Celestino Ribeiro

Foi com indiferença quase generalizada que há anos assistimos à partida de uma relíquia Eifel da nossa terra: a ponte do caminho de ferro sobre o rio Âncora . Com a mesma indiferença – salvo as raríssimas excepções à regra – também assistimos à partida do salva- vidas “ Lagoa” supostamente para o Museu de Marinha de Lisboa, mas que acabou ingloriamente na margem esquerda do rio Minho junto ao pinhal do Camarido.
Com estes dois exemplos de delapidação injusta e impune do património Ancorense, queremos alertar e prevenir para futuras movimentações com os mesmos fins lesivos - não só do património – mas do seu significado como parte integrante da nossa memória histórica e, devia ser, do nosso orgulho colectivo. Mas parece que até a história nos querem negar, apagando os seus símbolos materiais.
Talvez este alerta não passe de uma voz cujo eco se perde no deserto largo da indiferença e , assim, talvez vejamos aumentar a lista de património e lembranças histórico- culturais abatidas ou simplesmente modificadas e mudadas de lugar em notória e inequívoca alienação da sua identidade com relação a um lugar que lhe deu o nome ou esse memorial deu nome ao lugar. E, a ser assim, como já foi e pode voltar a acontecer, assume uma grande responsabilidade quem o fizer. Talvez até um dia a história se encarregue de denunciar e julgar o que agora se cala e ignora.
Regressando ao fio condutor deste apontamento com o qual pretendemos evocar uma peça fundamental do nosso património histórico – marítimo para sempre perdido – o salva- vidas “ Lagoa” – e a memória dos seus mestres, convido o leitor a situar- se num tempo em que a actividade pesqueira constituía uma indústria da maior importância em termos de ocupação e, consequentemente, de contributo decisivo para o desenvolvimento económico da nossa comunidade que assim se tornou uma referência de gente marinheira no contexto dos burgos piscatórios do país.
A estação do Instituto de Socorros a Náufragos , demolida aquando do prolongamento da avenida marginal para norte , foi instalada a alguns metros do Barracão da Senhora da Bonança e veio substituir a plataforma varadouro existente no Campo do Castelo.
O edifício era rectangular, de duas águas, e tinha uma porta de serviço do lado nascente. Do lado poente, um grande portão dava acesso à embarcação, de onde dois carris paralelos assentes sobre pilares serviam a manobra de entrada e saída do salva- vidas, ou seja, o seu varadouro privativo.
No cimo da empena sul do edifício existia um campanário, cujo sino servia para chamar os tripulantes da embarcação de salvamento, para os treinos de mar ou para prestar socorro. Nestes casos muita gente se apinhava a ajudar a empurrar o barco para o mar, enquanto as mulheres chorosas e aos gritos rogavam junto ao nicho do Senhor dos Aflitos a protecção dos seus homens e o seu regresso a porto e salvamento.
Normalmente a tripulação, exceptuando os seus mestres, era constituída por jovens pescadores que, assim, cumpriam o seu serviço militar.
Do salva- vidas “ Pedro Bogalho” assim baptizado em homenagem ao pescador Pedro Verde – “Bogalho” era o apelido da mãe , natural de A Guardia , e grande impulsionador do primitivo Portinho – foi seu primeiro mestre Firmino Verde, personalidade multifacetada, um dos poucos pescadores que sabia ler e escrever e detinha outros conhecimentos, tais como carpintaria naval e bom relacionamento com as leis em vigor motivo pelo qual era procurador de algumas pessoas e lhes tratava da papelada burocrática.
Com o mestre Firmino Verde , o salva- vidas “ Pedro Bogalho” averbou fama insuperável pela coragem e tenacidade postas à prova em diversos episódios de salvamento de homens e embarcações em perigo.
Seguiram- se como mestres da mesma embarcação de salvamento o Plácido da Silva, o Daniel Fão e o Manuel ( Manca ) na fidelidade aos pergaminhos do seu passado e, ainda , o Manuel Galego que faz a transição do “Pedro Bogalho” para o novo salva- vidas “Lagoa”.
O “ Lagoa” vem para cá no advento das embarcações motorizadas e, portanto, mais seguras e rápidas que a embarcação a remos. Tem, por isso, poucas saídas registadas em termos de socorro, mas detém o símbolo de um testemunho emblemático.
Competia também aos mestres do salva- vidas hastear os sinais convencionais do tempo no mastro do castelo e accionar a ronca do nevoeiro.
Como nota curiosa e fazendo parte do conjunto das superstições da gente do mar herdadas dos seus ancestrais galegos, era costume em dias de nevoeiro, que três virgens moças fossem até à ponta do cais e ali subissem as saias mostrando o rabo voltado para o mar. Diziam que era para espantar o nevoeiro, um perigoso adversário dos homens do mar.
A assinalar o fim trágico de uma embarcação preciosa e rica de significado - o salva – vidas “Lagoa” - peça digna do nosso património histórico - marítimo deixado durante anos a agonizar sem o impulso de uma vontade que lhe restituísse a vida e a beleza da sua herança gloriosa, quero render a minha homenagem aos homens que nessas embarcações se aventuraram para resgatar dos elementos em fúria os seus companheiros naufragados e em risco de naufrágio: os seus mestres e as suas tripulações.

PROA AO MAR

Por Celestino Ribeiro
Nortada, brisa desfeita, mar de barbalhão. Mar branco de espuma, as carrouqueiras erguiam- se espicaçadas pelo vento cavando o dorso do mar. A espuma branca e fervilhante da ondulação metia respeito como as barbas de S. Telmo. Mas o poente é de jeito, mascatos voando em acrobacias estonteantes penetram na água , gaivotas em alvoroço, sardinha, muita sardinha, vai o mar cheio. O jeito que vai no mar não engana.
Depressa, varas estendidas na areia, rolos em cima e a gamela a deslizar sobre eles.
- Vai, vai, para baixo todos os santos ajudam!
- Vem malhouco, agora, empurra, salta. Vamos com Deus!
Algumas remadas e o Sabugo é alcançado, espuma dispersa da raiva do vento que as ondas desfaz.

- Vamos marear! – grita o arrais. Agora, enverga, pano estendido de proa à ré, amarra os envergues à verga alongada, lestos os aparelhos . – Arvorar o mastro, ostagar . Iça, iça, retesa os caçoilos , colhe a escota, teza o socairo . O leme, o leme já está ferrado , a cana do leme enfiada na cachola.
Roupa de oleado ajustada ao corpo , sueste a cobrir a cabeça salpicada de vento e de mar, alerta constante, vai a bolinar.
Força gamelinha, o jeito vai a noroeste pelo Lago, a Parede, os Carvalhinhos.
Ah ! Mar de Deus, a surreada é de proa à ré, a gamela adorna por bombordo, a água entra pela borda metida. A vela latina é grande e perigosa, exige muita perícia e experiência nestas condições de nortada forte e mar encrespado, mas aguenta – se.
- Rapaz, escoa a água!
E o rapaz, iniciado, agarra - se a bombordo tiritando de frio e de medo, empunha a cunha ( bartedouro ) e zás, zás, pressuroso escoa a água .
- Para estibordo! - grita o arrais – depressa rapaz, vai adornar .
A vela quase toca na água , a gamela quase se volta, o rapaz encheu os canecos, aturdido pelo rugido do mar e os gritos do arrais , indefeso e molhado como uma sopa. Na boca o sabor amargo do sal e da vida que abraçou.
Manobra para arribar, proa à linha de vento. A água é muita a bordo: -Escoa, escoa . Ufa, que susto!
Agora, de novo à bolina, mais uma bordada a nordeste e outra mais a noroeste . – Virar, virar! – Ah ! gamelinha, vela latina em barco masseira, estrutura românica , testeiro de proa, testeiro de ré, grande leme para compensar o fundo chato.
- É melhor rizar, tio Rifeiro.
- Não – responde – não vamos rizar, a gamela aguenta, nós aguentamos, podeis confiar, asseguro –vos. Logo o sol cai na água , temos de chegar depressa aonde vai o jeito.
- Então, que a Senhora da Bonança nos ajude.
É o último bordo, emposta a noroeste, mais surreada forte, verga a gemer contra o mastro firme , o vento a rugir nas adriças, pano cheio, proa ao mar.
- Vamos arrear! Aproa, colhe a escota, enrola o pano.

Mastro e verga descansam agora sobre a forqueta. O leme repousa sobre o testeiro e o banco de ré. O rapaz estava extenuado. Que bem sabia bater uma sorna ali debaixo do leme , abrigado . Mas o trabalho vai continuar.
- Vamos largar com Deus.
E as peças - as redes da sardinha - saem pela polé, à proa, boiréu, após boiréu, sineiras retesadas . Então , o sol baixinho , despede- se e o dia fenece. A nortada amaina , adormece com o sol perdido no desmaio do horizonte.
O assejo é breve, já há boireis mergulhados na água puxados com o peso suplementar das redes . A sardinha está nas malhas como o cabelo.
- Vamos alar!
As redes são agora um grosso rolo a entrar para bordo puxadas por braços renovados de força e entusiasmo. Chegam carregadas de sardinha , vivinha, brilhante como a prata, agitada e aflita. Enche –se a pana , a gamela tem a proa afocinhada até à matrícula.
- Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje já está e para amanhã Deus dará.

Agora a remos para o Portinho. Não há vento para a vela.
O silêncio da noite é cortado pelo esforço dos remos , o ruído peculiar do impacto das pás contra a água, das orelheiras enfiadas nos toletes e do arfar dos remadores. A proa chata corta o mar com dificuldade e, com o peso, amorrinha mais ao impulso e cadência das remadas. A luz mortiça do cigarro denuncia o fumador inveterado.
Horas a remar: - oh ! S. Bento dai vento - mas só um gracejo a animar responde: - Ai , Alentejo da minha alma, arma os remos que está calma.
Depois, o cheiro quente dos pinheiros trazido pelo balbuciar duma suave e fugaz aragem de leste. É o bafo da terra que respira muito próxima.
Faróis enfiados , Portinho adentro. - Encosta, encosta, vamos varar.
- Não, encosta só que a maré está a baixar e, logo, a gamela fica encalhada no lugar da venda e do escochamento da sardinha .
Ali, sobre a areia deixada pela maré em seco, descansa agora a gamela, como um guerreiro no fim da batalha.
O clarão da alva ergue – se , diáfano, imaculado e já corre o pregão da Maria da Júlia a cortar o silêncio das ruas estreitas e desertas, ainda submersas na quietude matinal.
- Ó putas … levantai – vos da cama que os vossos homes já chegaram . É uma praia de sardinha , vivinha como a prata, graças a Deus!
E logo o bulício característico, o cheiro, as imprecações à mistura com devoções, o Guarda Fiscal que é gatuno e impõe um dízimo pesado que entrega ao roleiro indignado, aquela peixeira que quer mais seis mãos ( um quarteirão de sardinhas ) sobre meio cento alegadamente por lhe terem faltado sardinhas na venda do dia anterior: - ai a ladra ! - Mas, depois, tudo bem após uma corrida de “vai- te foder…, vai trabalhar”, em tom muito jucoso .
Ah ! E o pobre que pede encostado à proa do lado de fora, olhar faminto e guloso. Sim, dar ao pobre para comer , que quando Deus dá , dá para todos.
As sardinhas que estão no foquim são para a caldeirada. E que não esqueça o quinhão da Santa.
Que grande semana! Dá para comprar camisola e calças novas , pôr uma mesa de rico, beber uns copos e divertir – se. É a festa da Senhora da Bonança, as bandas de música, a feira de atracções, a capela iluminada , tão bonita, os foguetes a estoirar no ar, o fogo preso e de artifício, os bailaricos , o arraial, a procissão junto ao Portinho . Enfim, enxugadas as lágrimas por um momento, para a comunidade se vestir de festa e devoção.
Amanhã, as nossas gamelas - os nossos barcos galegos - continuarão de proa ao mar.

PARA A HISTÓRIA TRÁGICO – MARÍTIMA ANCORENSE

Por Celestino Ribeiro
Dos tempos mais remotos , achados arqueológicos indiciam o desenvolvimento de actividades pesqueiras nas reentrâncias do litoral rochoso da nossa costa, realizadas pelo homem pre- histórico. Não conhecemos, todavia, a dimensão dessa indústria, nem se utilizavam embarcações nessa actividade marítima. Mas podemos imaginar que, à semelhança dos oestrymnios deste noroeste peninsular, o homem primitivo que habitou nas margens das rias galegas construiu embarcações de peles de animais e que ousou fazer- se mais ao largo da penedia costeira.
Os tempos posteriores, da Reconquista à fundação desta comunidade sobre as antigas “villages” de origem românica e sobreviventes das invasões muçulmanas, dão- nos a notícia de um assentamento agrário mas omite qualquer referência a uma actividade pesqueira elaborada.
Todavia, no início do séc. XIX, antes do estabelecimento de uma comunidade de pescadores galegos, já existiam camboas construídas para a captura de peixes e se havia desenvolvido a prática da apanha do sargaço como fertilizante para o amanho das terras. Eram os proprietários rurais que exerciam esse labor e, coadjuvados pelos seus assalariados, construíram na pequena reentrância natural do portinho Ancorense as pequenas arrecadações de apoio sobre as primitivas dunas do lugar. O último testemunho dessas arrecadações do sargaço e rudimentares ferramentas de pesca, é o conhecido “ Barracão da Senhora da Bonança” inicialmente de cobertura de folha de zinco que, mais tarde, foi adquirido pela Associação de Nossa Senhora da Bonança, uma Confraria de Pescadores.
Cremos que as outras arrecadações, mais antigas, eram de dimensões bastante inferiores, a julgar pelas áreas de ocupação reduzidas das habitações dos pescadores que nelas tiveram origem, assim como as “casinhas” e as “caldeiras” onde os pescadores guardavam os apetrechos de pesca e curavam as redes, ( “ encascar” com a tinta extraída artesanalmente da casca de salgueiro, que era esmagada em pias de pedra e depois cozida ).
O assentamento da primitiva comunidade galega de pescadores na segunda metade do séc. XIX, está na origem do desenvolvimento de uma importante indústria de pesca e do alvorecer de uma comunidade de pescadores ancorenses resultante da segunda geração de galegos que conservou a sua matriz endogâmica , raramente beliscada.
Não cabe aqui desenvolver o relato pormenorizado das origens do Portinho como comunidade específica , nem é esse o nosso propósito neste modesto contributo.
Já nos finais do séc. XIX, destaca- se a figura quase lendária de Pedro Bogalho, cuja origem ancestral é galega. A sua acção mais relevante e conhecida, foi a célebre intervenção junto do governante real de passagem por Gontinhães em direcção a Caminha onde se dirigia. Fazendo parar a carruagem, Pedro Bogalho pediu- lhe um “porto de mar” para poder matar a fome aos filhos e, em seguida, para espanto de toda a comitiva, ofereceu- lhe uma caldeirada de sardinhas, facto que o governante agradeceu e fez questão de sublinhar que, em toda a costa portuguesa que visitou, ninguém lhe tinha oferecido uma caldeirada de sardinhas. E ali mesmo, o governante lhe prometeu o “porto de mar” que pedia.
Pedro Bogalho era um homem de horizontes largos, temperado na dureza da vida e trabalho no mar, espírito solidário e singular capacidade de liderança. O primeiro barco salva- vidas desta praça recebeu o nome de “Pedro Bogalho” como homenagem da classe ao homem que reconhecia. Firmino Verde foi mestre desta embarcação, tendo- lhe sucedido o Manuel Galego também mestre do terceiro e último barco salva- vidas, o “Lagoa”.
Também o largo que hoje ostenta o nome de Pedro Bogalho, foi uma feliz ideia para lembrar a grandeza de um carácter e o vínculo a uma pertença. Talvez não tenha sido um Cego do Maio poveiro mas, seguramente o indicador determinado de um rumo que agora vê desabrochar o maior investimento público - nunca é demais lembrar - dos últimos anos em Vila Praia de Âncora. Referimo- nos concretamente às obras do novo Porto de Abrigo e marina náutica.
Esta obra sucessivamente prometida e sempre adiada primeiro, com o argumento da inviabilidade económica e, agora mesmo, com a alegada inexistência de profissionais de pesca para rentabilizar e justificar o investimento, é a prova da miopia de alguns e da esperança de muitos.
Uma terra que o mar tão profundamente marcou, não pode ignorar o coro de vozes que ressoa naquele lugar, naquelas ruas estreitas que o modernismo descaracterizou. São as vozes daqueles que partiram e nunca mais voltaram ao berço sagrado do Portinho. Junto ao nicho do Senhor dos Aflitos, as lágrimas vertidas de desespero e desconsolação , misturam – se soluçantes com o fragor das ondas.
Seria justo e digno pois, - o que até não é inédito – levantar um memorial à ousadia e ao heroísmo dos pescadores ancorenses que pereceram no mar. Uma pedra arrancada que fosse às primitivas estruturas do portinho, para lembrar as tragédias que no séc. XX se cifraram em quarenta e um pescadores mortos no mar. Ao menos uma pedra em sua memória, seria o mínimo pedido. E poderíamos contar como eles eram, as histórias dos seus naufrágios, as palavras como se despediram em terra para não mais voltar, os pressentimentos e premonições sei lá, o último olhar que o mar reclamava. Também o luto, o silêncio de chumbo, as lágrimas irrepremíveis , as famílias na dor e desolação, os pais , os filhos, os irmãos, os amigos que se foram sem dizerem adeus, porque só estranha e misteriosamente pressentido.
Numa terra onde se sente a ausência de monumentos civis evocativos ( 95% dessas peças são de referência religiosa ) uma grave lacuna esconde o conhecimento da nossa história colectiva que os poderes públicos locais , pessoas e associações têm a obrigação de promover , dotando-a de sinais de referência para a posteridade, para que os vindouros conheçam e se orgulhem da sua pertença e da sua identidade ancorense.
Se já a toponímia de Vila Praia de Âncora deixa em grande parte muito a desejar por não privilegiar figuras e acontecimentos locais as referências de estilo escultural e arquitectónico são de uma ausência confrangedora . Estas referências são de relevante importância para a dignificação da nossa terra , o postal evocativo da nossa caminhada colectiva no tempo, o orgulho pela nossa história que nos contempla e nos desafia de impulso ao futuro .

O ROSTO ASSOCIATIVO DOS PESCADORES ANCORENSES

Por Celestino Ribeiro




Sempre numa linha de continuidade das tradições dos seus ancestrais galegos de A Guardia, os pescadores Ancorenses sentiram o desejo de criar vínculos associativos para melhor e mais organizados responderem aos apelos e necessidades impostas pelas exigências dos tempos e, particularmente da sua condição condição social.
Eles, os pescadores Ancorenses – estamos em 1928 – conheciam dos seus pais e avós naturais de A Guardia a remota “Cofradia de Sta Tecla” , a associação dos pescadores guardeses , cuja santa era e ainda hoje é, venerada numa pequena capela no alto do monte de Sta. Tecla, e o papel que esta associação desenvolvia tanto a nível religioso como social e cultural no ambiente da comunidade marítima.
Assim nasceu em VP Âncora a denominada “ ASSOCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA DA BONANÇA” , que se assume canonicamente como uma “associação privada de fiéis” logo, distinta de outras confrarias ao tempo existentes e da confraria da Senhora da Bonança de Carreço de onde veio a devoção à Senhora da Bonança, mas não a inspiração associativa. Esta era uma “associação pública de fiéis” .
Convém aqui esclarecer, que nos termos do Direito Canónico existem dois tipos de associações bem diferenciados: as “associações públicas” sempre presididas pelos párocos e com fins estritamente piedosos e as “ associações privadas” que, para além de se lhes reconhecer o direito de encargos pios, são em tudo semelhantes às associações de direito civil. Com efeito, os seus órgãos directivos são a Direcção ( órgão executivo ) e a Assembleia Geral ( órgão deliberativo ) . Nestas, a autoridade eclesiástica tem a missão de velar pelo cumprimento dos Estatutos e da vontade dos fundadores.
E é precisamente no cumprimento dos Estatutos, que a Direcção decide adquirir o imóvel designado por “ Barracão da Senhora da Bonança” , sito na rua 13 de Fevereiro nº 2 junto ao Portinho, cuja outorga do título de aquisição foi lavrado no dia 8 de Janeiro de 1935, a fls. 77v do livro 38 do Cartório Notarial de Caminha.
Este imóvel foi, assim, a Sede da Associação, da Comissão de Festas e da Mútua dos pescadores Ancorenses. Só não se concretizou a criação de uma ou mais escolas para ministrar instrução aos seus associados , como é referido no nº 2 do artigo 3º dos Estatutos.
No plano assistencial , que diríamos hoje de solidariedade social, viveram no anexo do Barracão a “ lídia Pregueira” e depois o “ tio Bexiga”. Como curiosidade, a lídia pagava 15 escudos de renda em 1955 ao Manuel Galego ( administrador ) , que depois este entregava à D. Lina para pôr no peteiro do altar da Senhora da Bonança. Um feixe de lenha vendia- se nesse tempo por 12 escudos e 50 centavos.
Após o 25 de Abril , o Barracão continuou a ser sede da Comissão de Festas e do Sindicato Livre dos Pescadores de VP Âncora.
Em 16 de Novembro de 1989 foi efectuada uma escritura de justificação notarial que se destinava a corrigir o título de aquisição do Barracão. Este acto desencadeou um processo judicial que terminou com o reconhecimento da propriedade à Associação de Nossa senhora da Bonança, como era de pleno direito.
Compete agora aos associados , aos pescadores, dar continuidade à obra dos seus avós, cujo dinamismo foi capaz de erguer um património e sonhar um objectivo de interesse colectivo. Contrariar e criar dificuldades a este direito inalienável da classe piscatória em particular, é trair a vontade dos fundadores e daqueles que lutaram por esta causa.
No período controverso iniciado em 1989, mais por desconfiança de propósitos do que por outra razão, ainda alguns pescadores instituíram uma associação civil que deram como Sede o Barracão da Senhora da Bonança e se designou como “ Associação dos Homens do Mar de VP Âncora” e, ainda, tomando por base os Estatutos da Associação de Nossa senhora da Bonança, que acabou por não vingar.
Actualmente está instituída uma nova associação de pescadores que congrega profissionais da pesca e desportivos e se designa por isso mesmo de “ Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de VP Âncora”, com sede num pouco digno cubículo do anfiteatro do Campo do Castelo.
O estado actual do Barracão da Senhora da Bonança é de completa degradação e insalubridade, situação que urge resolver.

MEMÓRIA DA VELA LATINA ANCORENSE

Por Celestino Ribeiro
O sol da meia tarde daquele dia ameno de Julho era um ponto luminoso de brilho indefinido no centro de um círculo nebuloso e compacto. Na soleira da porta da taberna alguns pescadores comentavam por entre duas fumaças do cigarro de tabaco da pana feito manualmente:
- O sol leva círculo, vamos ter volta de tempo ! – vaticinou o experiente tio Marrucha.
Com efeito, a nortada habitual daquele período das festas de S. Bento tinha amainado bruscamente e o mar apresentava – se com calma estanhada.
No Portinho, as gamelas baloiçavam inquietas à espera dos seus tripulantes. As velas que estiveram a secar estendidas no Campo do Castelo e ao abrigo da muralha sul do Forte da Lagarteira, tinham sido recolhidas ainda quentes e dobradas num molho. Como estava calma não foram envergadas e descansavam à ré abrigadas por debaixo do grande leme rectangular que repousava entre o testeiro e o banco da popa.
- Vamos com Deus ! – saudou o arrais – e todos levaram a mão à boina descobrindo – se à saída do Portinho. Remava –se cadenciada e vigorosamente rumo a sudoeste. A experiência , indicava que aquela calma repentina do início da tarde com cessação da nortada, augurava uma mudança de ventos do quadrante sudoeste. Havia que rumar a barlavento. As gaivotas voavam alto, primeiro em círculos , depois inflectindo decididamente para norte rumo às ilhas Cies.
O sol já estava a um palmo da linha do horizonte, agora no meio de um arrebol de tons binários , violáceos e alaranjados.
- O sol cai doente, camaradas – comentou o arrais com olhar pensativo.
Mas a calma continuava. As peças , as redes da sardinha, corriam borda fora através da polé e mergulhavam no mar plúmbeo apenas matizado por uma ou outra centelha da luz crepuscular .
Agora era só esperar pelo assejo que começava quando a água pintasse.
Sobre os montes distantes erguia – se pressurosa a lua em quarto crescente bem adiantado. Por volta da meia- noite um anel nebuloso envolvia a lua . E lua com anel – dizia o velho rifão – chuva e vento a granel.
- Vamos a ela , camaradas! – ordenou de improviso o experimentado arrais. E logo começaram a puxar a pernada que amarrava à cuba da rede. Então, começaram a aparecer na noite escura, polé dentro , as sardinhas reluzentes de prata e agitadas que, uma vez desmalhadas , iam enchendo a pana.
Entretanto, as estrelas deixaram de se ver, a lua também, a espaços cada vez maiores. Pequenos malhoucos começaram a embater nos costados da gamela , enquanto uma aragem ainda fraca de sudoeste se fazia sentir.
As duas primeiras peças estavam aladas e já o vento aumentara de intensidade. As primeiras ondulações desfeitas começaram a aparecer , tingindo o mar escuro de espuma branca . Um relâmpago cruza o céu , iluminando um mar revolto. As ondas roncavam aos ouvidos , a surreada entrava borda dentro e obrigava a empunhar a cunha com pertinácia para escoar a água da embarcação.
- Força rapazes, vamos meter as redes a feixe e molho . Desmalhamos em terra ! – gritou o arrais.
Metidas as redes a bordo com a sardinha nas malhas, o mar encapelado, relâmpagos , vento e chuva a sacudir a frágil embarcação , já de si metida de proa com o peso da pescaria, havia que fazer rumo ao Portinho.
- Vamos marear de vela! – ordenou com firmeza o arrais.
- Enverga, leme ferrado, iça, iça, colhe a amura – eram ordens que se sucediam em frenesim gritadas no meio da tempestade, surreada de uma lado e de outro, gamela adornada, ora subindo e descendo nas ondas.
- Tone Chapa , vamos navegar no fim da roda ? – interrogou o ti Alfredo Água Borna – é muito perigoso, não podemos orçar !
- Eu sei – respondeu o veterano Tone Chapa – mas não temos outra hipótese, o Portinho fica- nos a nordeste, a sotavento daqui. Confiai em mim, o leme vai em boas mãos. Que a Senhora da Bonança nos proteja. Tu, Alfredo, fica de olho com a adriça pronta a arrear a vela se a gamela afocinhar perigosamente. Os rapazes venham para a ré.
Foi um regresso dramático , coração na boca , preces nos lábios, imprecações, tensão permanente. O tio Alfredo demonstrava as suas qualidades de marinheiro, manobrando a vela com experimentada perícia. A água que entrava era escoada com tudo o que servisse. Até o foquim onde se guardava a bucha , a linha de mão, o sebeiro da rocega e a agulha de marear, servia nessa tarefa tenaz.
A vela latina, sempre exigente, mais agora a navegar em fim de roda , verga em cruz ao jeito de redondo exigia , ainda, uma perícia maior.
O Portinho foi alcançado. A coragem , a experiência e a mestria de navegar com vela latina em embarcações de fundo chato e testeiros quadrados como é a gamela, atestam a competência técnica dos pescadores Ancorenses de antanho. Este escol constituiu a marca que muitos deles levaram aos lugres e dóris da lendária Frota Branca nos mares ventosos do Atlântico norte.

História de um naufrágio

Por Celestino Ribeiro
O desenvolvimento da avenida marginal para norte há uns anos atrás e agora as novas instalações portuárias deram uma perspectiva física diferente da que era o antigo burgo.
No palco do Portinho e como cenário, destacava- se o Forte da Lagarteira, a estação de Socorros a Náufragos, os dois faróis de enfiamento, o nicho do Senhor dos Aflitos . Desde o núcleo fronteiro de casas baixas e sóbrias até ao mar, a nesga de areia branca do varadouro. Aqui e ali, um ou outro pescador dormitava à sombra das embarcações varadas, embalados pelo marulhar ritmado das ondas mansas, como se fossem música para os seus ouvidos.
Saúdo com alegria uma vez mais a concretização do sonho partilhado por gerações de pescadores. Ma s a nostalgia de outros tempos não deixa de me transportar a momentos únicos, ao âmago da alma daquele lugar mítico.
Passar pelo Portinho é para mim sentir um mundo que continua vivo nas minhas recordações e sentimentos, é sentir ainda o pregão das “ praias de sardinha” as histórias contadas pelos velhos sentados sobre a areia, as imprecações, as solidariedades e as desavenças pontuais, os “ banhos dos noivos” anunciados pelo arvorar de bandeiras nos mastros das embarcações, o toque nocturno do corno ou do búzio pelas ruas silenciosas a chamar porque o mar se tinha levantado pondo em risco a segurança das embarcações varadas na praia, e desta vez o toque do corno à viúva que voltava a casar acompanhado do pregão: “ Senhora Maria tenha cautela, que é já a 2ª vez que vai o nabo à panela”, as rezas e conjuros, as superstições, o caco do defumo deixado nas encruzilhadas das ruas. Mas também o Portinho dos gritos e das lágrimas pelos que partiram e não voltaram mais. Como naquele fatídico dia de Agosto, vésperas da festa da Senhora da Agonia em Viana do Castelo.
Havia dias que a nortada “ queimava o mar”. Antes que a tarde se levantasse, era necessário arribar.
Porém, quis a desdita que duas embarcações ancorenses tardassem em regressar por teimosia e circunstâncias adversas: prisões das redes no fundo do mar, desmalhar o peixe e o vento a soprar cada vez com mais intensidade , mar cavado, tudo se conjugava caprichosamente.
No Portinho, a ansiedade aumentava hora a hora, quando alguém vislumbrou a ponta de uma vela sobre o dorso branco de espuma e encapelado do mar. Era o tio Viriato com a sua tripulação. Dezenas de braços solidários ajudaram a puxar o barco para a praia : “ Não viram os nossos?”, perguntou alguém. Os homens do tio Viriato trocaram olhares que denunciavam cumplicidade. Os rostos expressavam ainda a angústia e o medo, os sinais da luta que travaram com os elementos em fúria, o drama vivido e presenciado sem nada poderem fazer. A resposta soltou- se como um suspiro que não libertava da opressão cravada como lança no peito. Era como fugir sem conseguir, tolhidos os passos: “Não, não os vimos” foi a resposta seca combinada.
Mas viram, soube- se muito mais tarde, porque uma testemunha quebrou o pacto estabelecido de esconder a verdade do que se passou. Eles viram naufragar a outra embarcação que adornou por estibordo ao impacto de uma traiçoeira onda, ouviram os seus gritos de pedido de socorro, mas não arriscaram uma tentativa no meio da aflição e do desespero que eles próprios também experimentavam, num esforço indómito pela sobrevivência. Mas este acto – bem o sabiam – seria considerado uma cobardia , que a comunidade piscatória sempre havia de ter presente. E viveram , com efeito, marcados com esse estigma até ao fim dos seus dias.
Eles não tinham hipótese, é certo, e viram desaparecer nas ondas aqueles homens sentindo na alma o desespero e a raiva sem nada poderem fazer. Avançar na direcção dos náufragos seria um verdadeiro suicídio, porque obrigaria a manobrar a vela várias vezes em bordos arriscadíssimos e sucessivos para leste e oeste até conseguirem alcançá- los a barlavento. Estas manobras naquelas condições de tempestade desfeita, seriam irrealizáveis. Mas a lei do mar é implacável. O “ salve- se quem puder” não se aplica aos homens do mar, conscientes do dever da solidariedade até ao limite, até ao risco de sossobrarem todos. “Hoje por eles, amanhã por nós”, é o lema que melhor assenta aos pescadores, quando se trata de socorrer o seu semelhante.
A outra embarcação, onde se encontravam dois filhos do proprietário, o tio José Maria, “ Galinhaço”, perdeu- se com os seus quatro tripulantes. Três deles desapareceram varridos pelas ondas nas profundezas do oceano. Um dos irmãos, que sempre dizia “ caso algum dia lhe acontecesse naufragar, nunca abandonaria a embarcação”, amarrou- se ainda a um banco do barco semi- submerso e à deriva. As ondas cobriram- no repetidíssimas vezes, a angústia, o frio das noites, a hipotermia, a inanição e por fim a morte, foi o seu drama.
Alguns dias depois, perdida toda a esperança num sinal de vida, surgiu à proa de um barco galego a navegar para terra, a imagem sem palavras da tragédia. Era o barco naufragado cheio de água apenas aflorado à superfície com o único náufrago que ainda conseguiu amarrar – se a um dos bancos da embarcação. Dizem que o corpo ainda se mantinha com algum nível térmico, sinal de que resistiu vivo até bem pouco tempo antes de ser encontrado. Seria a única testemunha em condições de relatar o drama do desaparecimento dos seus companheiros e de ver angustiado o outro barco a afastar – se cada vez mais, impulsionado pelo vento forte escondendo – se e surgindo depois sobre o mar desfeito em espuma. Rebocado para La Guardia, foi o seu pai reconhecê- lo.
Este acontecimento teve, ainda, outro desenlace. Não o vamos explorar agora. Fica o registo na memória para mais tarde. Ele traduz o sentimento insuperável da classe, essa incapacidade de dar ao outro o benefício da dúvida, ou de perdoar e esquecer. Quando se colocou a questão de agarrar desesperadamente uma hipótese de sobrevivência, contra o risco certo de perecerem todos se intentassem uma manobra de salvamento, impôs – se um pacto de silêncio para não expor a honra. Mas, quando alguém falou entre a euforia de uns copos e quem o ouviu ficou a saber que o segundo barco viu toda a tragédia e não socorreu a outra embarcação que se afundava abandonando os seus tripulantes ao seu destino fatal, houve quem alimentasse contra aqueles um sentimento de ódio e vingança que teria os seus efeitos nefastos. Foi a dor recolhida por quem perdeu quem amava e não foi capaz de perdoar, nem aceitar compreender e desculpar.
Por ironia , sinto-me entre os dois campos desta tragédia: é que em ambos estavam familiares meus. Perderam – se uns, salvaram – se outros, mas estes viveram incompreendidos por uns e compreendidos por outros, porém, com a dor na alma , o quadro trágico sempre diante dos seus olhos tanto no mar como no silêncio das noites no leito. Nos ouvidos os gritos aflitos de pedido de socorro e a impotência atroz de nada poderem fazer. Como uma perseguição, o anátema de não serem compreendidos por todos. Procurei ser fiel à memória. A afirmação de uma identidade, não pode esconder mas, antes, assumir toda a intensidade das suas luzes e das suas sombras.

APENAS CRIANÇAS

Por Celestino Ribeiro


Lembro- me que a letra de uma música dos Delfins diz a dado passo:
“ Quando alguém nasce, nasce selvagem, não é de ninguém”. A afirmação é discutível, mesmo antes de reverter em questão filosófica, porque quando alguém nasce é, para além de si mesmo uma pertença, dos pais , da família, do espaço que o viu nascer. Mas é deste espaço que nos marca indelevelmente - que até na esfera de uma comunhão linguística nos distingue, pelas características do sotaque - que gostaria de partilhar esta coluna.
Com efeito, a minha geração, especificamente aquela que se identifica e circunscreve ao espaço físico e sociológico da borda do mar, era do vento e da água, elementos essenciais do nosso quotidiano, aberto a um horizonte para lá das palavras.
Éramos crianças alegres e irrequietas como as ondas cujo som foi o primeiro a ouvir- se, quando chegamos ainda confusos a este mundo. Crescíamos em bandos e a própria natureza envolvente despertava em nós imaginativas brincadeiras.
Assim, o vento despertava para a construção de pequenas lanchas de cortiça ou, mais elaboradas , de madeira, as quais apetrechávamos com velas. Depois era vê-las singrar de uma margem à outra do rio, velas enfunadas para gáudio dos seus possuidores.
Outras vezes era a construção de pequenas élices de madeira, a que chamávamos de “moínhos de vento”. Pomposamente, colocávamos essas élices numa espécie de tótem, uma vara espetada na areia, no cimo da qual giravam com a força do vento.
Para o mar eram os botes feitos de latão trazido da lixeira a céu aberto do Espirro, no topo norte do Campo do Castelo. Imaginávamos viagens e pescarias, as artes , as tempestades e bonanças, enquanto impulsionávamos os pequenos barcos. Podíamos dizer que nascíamos pescadores , por isso podemos afirmar que um pescador não se faz , nasce pescador. Mas isso levar-nos-ia a outra história.
Também a praia , palco por excelência da nossa infância, despertava o nosso imaginário, e brincávamos com os mesmos barquinhos de latão, inventando outras singraduras sobre as ondulações da areia.
Éramos do vento e do mar e não éramos de ninguém por perto na nossa imensa liberdade. Corríamos como lebres a fugir do cabo do mar, a autoridade marítima que vigiava a praia durante a época balnear e zelava pelos bons costumes.
É que nós brincávamos na areia e tomávamos banho completamente nus, como também não usávamos toalha. O sol secava os nossos corpos curtidos pelo salitre do mar e a roupa de todos ficava amontoada num canto qualquer da praia. Na fuga precipitada cada qual agarrava a peça que lhe viesse à mão. Se fôssemos apanhados pelo cabo do mar, éramos metidos na “casa das ratas” dentro do Forte da Lagarteira durante umas horas. Por isso éramos frequentemente confinados aos Caldeirões, a maior parte da época balnear. Ali sentíamo - nos mais livres e seguros. E a mata próxima sugeria- nos brincadeiras aos cowboys e aos índios: lanças, arcos e flechas de acácia, esconderijos nas dunas, eram uma alternativa aliciante. Depois mais um mergulho no rio Âncora e de novo estendidos sobre a areia escaldante a secar ao sol.
Éramos apenas crianças de vida livre e sadia. Construíamos os nossos brinquedos e brincadeiras à dimensão da nossa fantasia, inspirados pelo vento, pela água e pela praia sempre presentes.
A escola do Rego, a nossa escola, agora demolida para ali instalar a Ludoteca, como demolidas serão as árvores por nós plantadas naquela manhã de sábado sem aulas, traz à nossa memória um método de ensino austero. Era bom aprender – passar de cegos a ver – mas as reguadas naquelas manhãs de frio por causa dos deveres errados, ou por um atraso na chegada à aula, que a chuva impiedosa obrigou a refugiar no abrigo de um muro coberto de heras, o medo do olhar severo do professor, é um registo de recordação negativa que levou há dias o meu amigo e companheiro de infância João Amorim a concluir desta maneira um texto seu : “ ó escola, era por isso que nós não te amávamos” .
Maior , ainda, era o dilema daqueles que amavam a escola como se fosse um farol a rasgar as trevas da ignorância mas não podiam, de modo algum, amar o método das reguadas infinitamente desproporcionais à infracção cometida.
Mas , pessoalmente, estou mais grato à escola por aquilo que lhe devo
- e por isso lhe relevo a dureza do método - porquanto não foi suficiente para abalar em mim o amor pelos livros, nem para deixar marcas de sentimento ressentido.

domingo, 11 de março de 2007


Brasão - Escudo verde, contra chefe ondado de prata e verde e em barra três faixetas ondadas de preto e azuI; brocante, âncora de ouro. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco. com legenda em caracteres maiúsculos e a negro “Vila Praia de Ancora”.
Bandeira - Esquartelada de verde e negro. Cordão e borlas de prata e negro. Haste e lança de ouro.

Selo - Circular, com as peças do escudo sem a indicação de cores e metais, tudo envolvido por dois círculos concêntricos onde corre a legenda “Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora”.
Parecer emitido em 06 de Julho de 1993, pela Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

Em 17 de Setembro de 1993, o Parecer, por proposta desta Junta de Freguesia, foi aprovado em sessão da Assembleia de Freguesia de Vila Praia de Âncora.

Vila Praia de Âncora

Vila Praia de Âncora, faz parte do concelho de Caminha e pertence ao Vale do Âncora, tendo aí os seus limites estabelecidos na seguinte ordem: a Norte, a Freguesia de Moledo; a Nascente, a Freguesia de Vile; a Sul, o rio Âncora e a Freguesia de Âncora e a Poente o Oceano Atlântico.
Esta freguesia tem um clima de uma amenidade surpreendente, está aconchegada das ventanias, encrostada em colinas sobranceiras de encantadoras paisagens.
Cerca de nove quilómetros a separam da vila de Caminha. Valença está a aproximadamente trinta km, e Viana do Castelo, está sensivelmente a treze mil metros.
A freguesia de Vila Praia de Âncora já aparece mencionada na documentação do séc. X, então com a denominação de Gontinhães. Era uma paróquia com igreja e que estava organizada muito provavelmente segundo a fórmula ancestral de Villa rústica, à qual pertencia o sítio chamado da Lagarteira.
Esta paróquia de Santa Marinha de Gontinhães atravessou mais de 1000 anos de história local e de tal forma a denominação se enraizou, que ainda é usual na região, tal como ainda há quem chame de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, até porque, na verdade só em 1924, a secular Gontinhães se transmutou em Vila Praia de Âncora.
Toda a região é rica em vestígios arqueológicos, quer do Neolítico, quer da cultura Castreja (Idade do Ferro), mas o vale do Âncora tem atraído a especial atenção dos arqueólogos. O rio nasce na Serra de Arga e após 15 km chega ao mar num sítio a 7 km, a sul da foz do rio Minho. No sítio chamado Lapa dos Mouros, pode ver-se aquele que é provavelmente o Dólmen mais notável da pré-história em Portugal (o Dólmen da Barrosa).
Nos finais do século passado, Martins Sarmento deu a conhecer uma povoação castreja, hoje conhecida por Cividade de Âncora. Trata-se dum monte, excepcionalmente bem situado para cumprir missões defensivas entre o mar e uma ampla área circundante, habitada pelo menos até ao séc. I d.C.
Os romanos terão aqui instalado um entreposto mineiro para recolha dos metais que exploravam nas minas de Ribô, Orbacém e Gondar. Talvez por ter existido aí um entreposto com cais de embarque, se tenha gerado a ideia de que os romanos teriam baptizado o sítio com o nome de âncora, por aqui desembarcarem as suas tropas e aqui embarcarem o minério. Essa é a ideia de Argote. No séc. XIII generalizou-se a lenda de que teria sido na foz deste rio que o rei Ramiro (o da lenda de Gaia), afogou a sua adúltera e saudosa esposa com uma mó atada ao pescoço como se fora uma âncora... Ao que tudo indica no entanto, o nome é anterior e tem origem no nome que o próprio rio já teria. Quando a paróquia foi formada, ainda o sítio onde hoje está Vila Praia de Âncora seria completamente desabitado, principalmente por ser um sítio aberto e exposto aos constantes ataques dos piratas normandos. O mesmo Argote diz que aqui terá existido um fortim para vigilância e aviso. Por isso a paróquia inicial se fundou na “Villa” de Guntilares (dum tal Guntila) mais no interior e mais resguardada. Esta “Villa” teria resultado duma acção de presúria efectuada pelo Conde Paio Vermudes, aquando do repovoamento desta faixa do litoral até ao Lima (séc. IX) ou por um seu vassalo que se chamaria Guntila. O mesmo que terá povoado Bulhente. O topónimo já está documentado nos finais do séc. IX, altura em que parte das terras da Vila foram doadas ao Mosteiro de São Salvador da Torre. Data de então a primeira igreja consagrada como era usual, a Santa Marinha. Os tempos posteriores foram bem difíceis e desastrosos devido às razias muçulmanas e a foz do Âncora deve ter-se tornado um dos sítios mais perigosos de toda a costa norte. Era um ancoradouro que dava para um vale rico e fértil, por isso muito cobiçado e também frequentemente assaltado. Daí que uma outra Villa, a de Saboriz, provavelmente fundada no sítio actual de Vila Praia de Âncora, tenha tido uma vida precária, embora a documentação a relacione com uma Venda Velha ou com uma Pousada necessária para esta zona de muita passagem (séc. X) entre Braga e Tui.
Igreja Paroquial, Forte do Lagarteiro, capelas da Sra. Das Necessidades (Sra. Bonança), de S. Brás, de S. Sebastião e do Divino Salvador, Gruta de N. S. de Lourdes, Ponte de Abadim, vários cruzeiros, alminhas e ninhos são patrimónios existentes da freguesia de Vila Praia de Âncora.
A área urbana estende-se para as zonas de Sandia e da Vista Alegre e para a zona industrial da Póvoa e também para os lados da antiga Sobreira onde se localizam as escolas, o centro de saúde e a maioria dos serviços públicos.
Em 1991, ainda 15,2% dos residentes activos se ocupavam da agricultura, contra 31,2% que se empregavam na indústria e já 53,6% no terciário. A tendência para uma evolução rápida e positiva do terciário, assenta fundamentalmente no ramo do turismo e no equilibrado aproveitamento do mar, do rio e do campo ainda rural que rodeia a vila. Esta zona rural, onde, segundo a opinião dos responsáveis da Junta de Freguesia, ainda trabalham 4% dos activos (a maioria como complemento e não como actividade principal), espraia-se desde o Monte do Calvário (local de belíssimas paisagens), pelo lugar da Rocha com todo o seu tipicismo rural e artesanal, até ao lugar do Chão da Lameira com hortas e vinhedos e a Vile, Varais e Bulhente, já nas encostas da Serra de Arga.
Vila Praia de Âncora é uma vila com todas as infra-estruturas e à excepção das Repartições públicas (Finanças, Cartórios e Tribunal) que estão em Caminha (a 9 km), consegue ter uma relativa autonomia em todos os aspectos, a começar pelo comércio local que é diversificado, de qualidade e plenamente satisfatório.
A rede de distribuição domiciliária de água é completa e a rede de saneamento básico apresenta uma cobertura em cerca de 75% e até a lixeira que existia na freguesia já foi encerrada, facto que veio melhorar muito as condições ambientais.
No sector da educação temos o ensino pré-primário, básico e secundário. O pré-primário é assegurado por dois estabelecimentos de ensino: um público e um privado. O 1.º e o 2.º ciclos básicos funcionam na escola básica integrada. O 3.º ciclo básico é assegurado pela Ancorensis Cooperativa de Ensino e o ensino secundário está garantido, também, pela citada Ancorensis. Este estabelecimento de ensino prima pela qualidade e diversidade de opções que oferece à população escolar desde o 7.º ao 12.º anos de escolaridade.
Ao nível da saúde, a proximidade com o Hospital Distrital de Viana (Santa Luzia) coloca a freguesia numa situação aceitável comparativamente com outras situações. Em Vila Praia de Âncora existem já instalações locais modernas de análises e diagnósticos. Como se verifica, portanto, os cuidados médicos são bons e estão bem representados.
Quanto a apoios sociais, Vila Praia de Âncora dispõe de apoio à infância, à terceira idade e ao emprego.
No campo desportivo, além do campo de jogos, dum pavilhão desportivo e dum campo de ténis, há projecto para a construção dum complexo de piscinas. O associativismo é notável, destacando-se entre outros a dinâmica do Âncora Praia Futebol Clube, Clube Ancorense de Caça e Pesca, Sociedade Columbófila, Lions Club, Sociedade de Instrução e Recreio Ancorense, Grupo Etnográfico, Orfeão, Bombeiros Voluntários e “Nucleartes”. A cultura tem também o seu lugar próprio e multifacetado com actividades em quase todas as áreas próprias duma pequena cidade progressiva e moderna como é Vila Praia de Âncora.
A capacidade hoteleira é boa e um dos pilares do desenvolvimento turístico. Diga-se que neste aspecto, também não falta animação e capacidade para atrair turistas: Desde as praias fluviais e atlânticas, neste caso com destaque para a dita Praia das Crianças (um areal de águas tranquilas em que o rio e o mar se acalmam mutuamente para benefício da pequenada), até as maravilhosas margens do rio Âncora, à gastronomia regional, ao magnífico panorama visto do Monte do Calvário, até ao património edificado, em que sobressai a Matriz, o Forte da Lagarteira, as Capelas de Nossa Senhora da Bonança, de S. Brás, do Divino Salvador, de S. Sebastião, etc.

Ainda a respeito da história desta freguesia, no livro "Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo" diz textualmente:
«Esta freguesia aparece mencionada em documentos do século X, sob a designação de Gontinhães.
Na lista das igrejas de Entre Lima e Minho pertencentes ao bispado de Tui, elaborada por ocasião das Inquirições de D. Afonso III, em 1258, é citada a igreja de "Guntianes". As Inquirições referem também São Salvador de Bulhente, que hoje é apenas um lugar de Vila Praia de Âncora. Nessa época, porém, possuía igreja própria, sendo o seu abade apresentado pelos moradores.
D. Rodrigo de Moura Teles, em 17717, transferiu os bens da capela de Bulhente para o sítio do Calvário, por esta ter deixado de ter cura e fregueses.
Na taxação a que se procedeu no reinado de D. Dinis, em 1320, Gontinhães figura enquadrada no arcediagado da Vinha, com a taxa de 40 libras.
No Censual do Cabido de Tui para o sobredito arcediagado da Terra da Vinha, elaborado em 1321, Gontinhães pagava um quarteiro de trigo, uma libra de cera e procuração.Entre 1514 e 1532, no Censual de D. Diogo de Sousa, Gontinhães rendia para a diocese de Braga 23 mil réis. A partir desta data, todas as freguesias de Entre Lima e Minho, da comarca eclesiástica de Valença, passaram a fazer parte da diocese de Braga.Na avaliação dos mesmos benefícios eclesiásticos (1545-1549), esta freguesia rendia 45 mil réis.
Américo Costa descreve-a como abadia da apresentação do Ordinário, como alternativa do rei, tendo anteriormente pertencido à Casa de Vila Real.
Só em 1924, por força da Lei 1616, de 5 de Julho, passou a denominar-se Vila Praia de Âncora.»

( Fontes consultadas: Caminha e seu Concelho, Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo e Freguesias Autarcas do Século XXI )

in www.freguesiasdeportugal.pt