domingo, 25 de fevereiro de 2007

A identidade Ancorense


Como sabemos, os países, as regiões, os concelhos, as freguesias nascem, com certeza, de países, regiões, concelhos, freguesias que já existem. Por exemplo, Portugal nasceu de Castela e os galegos (a menos de um quilómetro de distância) não têm a mesma identidade que os portugueses.

Neste artigo, vamos tentar contribuir para a compreensão e exploração deste conceito, do que estamos a falar no que se refere à identidade.

E começamos pela noção de território que, inicialmente, foi tratado pelas Ciências Naturais, onde se estabelecia a relação entre o domínio de espécies animais ou vegetais com uma determinada área física.

Posteriormente, foi incorporado pela geografia, que relaciona espaço, recursos naturais, sociedade e poder.

Em seguida, diversas disciplinas passaram a associar-se o debate, entre elas a Sociologia, a Antropologia, a Economia e a Ciência Política.
O território surge, portanto, como resultado de uma acção social que, de forma concreta e abstracta, se apropria de um espaço (tanto física como simbolicamente), e, por isso, denominado processo de construção social enquanto que o espaço está relacionado com o património natural existente numa região/localidade.
Nas ciências sociais, as discussões sobre a identidade assumem duas formas mais importantes, a psicodinâmica e a sociológica.
A psicodinâmica, no discurso freudiano é a identificação, através da qual a criança assimila pessoas ou objectos externos (geralmente o superego de um dos progenitores). Pelo que, esta perspectiva, enfatiza o cerne de uma estrutura psíquica como tendo uma identidade contínua e, essa continuidade, significa a capacidade de permanecer na mesma a meio de uma mudança constante.

Assim, a identidade é um processo localizado no cerne do indivíduo e, contudo, também no âmago da sua cultura comunitária, um processo que estabelece, na verdade, a identidade dessas duas vertentes.
Para a Sociologia, a questão da identidade está ligada ao interaccionismo simbólico, ou seja, qual o meu eu? Quem sou eu? O eu é uma capacidade caracteristicamente humana que permite às pessoas ponderar de forma reflexiva sobre a sua natureza e sobre o mundo social através da comunicação e da linguagem.

Segundo Mead, este eu, divide-se em duas fases o “Eu” e o “Eu Mesmo”. O “Eu” é a reacção do organismo à atitude de outros; o “Eu Mesmo” é o conjunto de atitudes organizadas dos outros que a pessoa assume ela mesma. É este “Eu Mesmo” que está mais ligado à identidade, o processo concessão do nome, de nos orientarmos no território, de nos colocarmos, nós mesmos, em categorias socialmente construídas.

Nós somos tradição e memória e é por isso que temos a identidade do vale do Âncora. As gentes do vale do Âncora construíram-se no curso de um rio (o rio desce a montanha, não a sobe) onde se lavava a roupa, onde existem moinhos e lagares, onde a nascente e a foz se encontram ligadas pelos costumes, usos, tradições e, acima de tudo, pelo seu território.

Todo o Homem defende o seu território porque tem memória da terra que é sua. Maquiavel, aconselha o Príncipe a ter o cuidado de nunca roubar o território por ser o local onde as comunidades afirmam a sua identidade, mas antes a ocupá-lo e a respeitar a sua estrutura social pois o Homem esquece mais depressa a morte de um familiar do que a perda do seu território.(sic) Só quem nunca pertenceu a nenhum território pode afrontar e argumentar contra a questão da identidade.

Lutemos pela auto-determinação do vale do Âncora.

9 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de dar os parabéns ao meu amigo e colega Pedro Ribeiro pela iniciativa da criação de um blog sobre o povo ancorense.
Como é do conhecimento de alguns agentes de Vila Praia de Âncora tive a oportunidade de estudar durante um ano a cultura dos habitantes do vale do Âncora tendo concluído que existe, na realidade,uma identidade cultural única que caracteriza os habitantes do vale do Âncora. A criação de uma divisão administrativa com a consequente criação de um novo concelho não é, no meu entender, chocante mas antes uma questão de tempo.
O meu amigo Pedro Ribeiro sabe que sou totalmente insuspeito pois sou insular e levei um ano a tentar perceber as diferenças entre os diferentes vales (Coura, Âncora e Lima). Nada se faz sem críticas pois a verdade científica nem sempre é coincidente com a realidade política.

Anónimo disse...

Olá Joel!
É um prazer encontrar-te neste fórum. Na realidade, o trabalho que realizaste foi fantástico e ensinou-me imenso sobre a ausência de envolvimento na elaboração de um trabalho científico. Como aprendemos nos bancos da universidade efectivamente a distância diz-nos muito mais claramente sobre as pessoas. Dou-te os parabéns pelo teu trabalho e espero que me deixes publicar neste blog alguns textos. Um abraço.

Anónimo disse...

Por mim tudo bem e faço-te uma sugestão pois tu também fizeste vários estudos sociológicos sobre o vale do Âncora. Julgo ser do maior interesse a sua publicação. Principalmente o estudo sobre o impacto do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora nas freguesias do vale do Âncora. Irei passando por cá para dar o meu contributo ilhéu nas reflexões propostas por um amigo, colega e como sempre fizeste questão de apresentar, como ancorense de gema.

Anónimo disse...

Nas minhas viagens pelo mundo dos blogs encontrei "A voz Ancorense" e lembrei-me logo do colega Pedro Ribeiro que muitas vezes me disse que gostaria de criar úm sítio na net onde se pudesse falar de forma mais científica sobre a identidade do povo ancorense. Creio que estás a conseguir! De facto, a forma desapaixonada do conhecimento científico é que o torna tão apaixonante. Já agora, o que achaste do meu estudo "Ver a Dobrar"?

Anónimo disse...

Já o li e achei-o muito Pierre Bourdieu o que sabes que quer dizer, ou seja, só à altura de um investigador como tu. Tenho pena é que não tenha aplicação à temática deste blog.
No entanto, gostaria de te ver por cá muitas vezes porque enriqueceria e credibilizaria muito este blog.

Anónimo disse...

Olá Pedro,
Estou a frequentar o curso de Antropologia e estou a fazer um trabalho sobre as comunidades piscatórias. Será que me podes ajudar com Vila Praia de Âncora?
Obrigado!

Anónimo disse...

Os meus parabens pela inauguração deste blog que me parece fundamental para o esclarecimento e a defesa da identidade ancorense, que é, como sabes tambem a minha bandeira. Com os teus conhecimentos, com as tuas esclarecidas reflexões e com a ajuda de alguns amigos como o Joel, tenho a certeza que este forum será um sucesso. Força Pedro e um abraço.

Anónimo disse...

Caro Miguel,
Desculpa só agora estar a responder mas também só consegui visitar o blog a esta hora.
Efectivamente, existe já alguma bibliografia e trabalhos académicos significativa sobre Vila Praia de Âncora embora haja um atraso a superar relativamente à divulgação.
Para obteres informação começa por visitar a web do jornal digital Caminha2000.com e encontrará uma série de publicações que poderão ter interesse. Depois procura uma livraria junto ao Centro Coordenador de Transportes de Vila Praia de Âncora onde também encontrarás publicações interessantes. Um abraço.

Pedro Ribeiro disse...

Obrigado pela força amigo Brito. Também conto contigo no aprofundamento da cultura e identidade do povo ancorense.
Este será o nosso recanto de reflexão e reconstrução do mundo ancorense. Um abraço.