Por Celestino Ribeiro
A insensibilidade cultural e a falta de vontade política local, condenou ao desaparecimento o “Lagoa”, o último salva – vidas do Portinho de Âncora.
Com o barco poveiro há muito tempo extinto do varadouro Ancorense, a gamela ou masseira em fase de extinção e com adaptações de matéria e estrutura que a vão afastando do modelo original, o desaparecimento do salva – vidas “Lagoa” marca o fim das embarcações tradicionais do nosso património histórico – marítimo.
Ao escrever estas linhas, a mágoa invade a minha alma . Um sentimento de impotência ressoa como um grito na solidão do deserto. Com efeito, a indiferença de uns e a resignação de outros , a ignorância daqueles e a desistência destes, é a causa profunda deste estado de alma. Limito – me , pois, a escrever um testemunho para que outros um dia, melhor que nós, saibam resgatar as “ pérolas aos porcos”. Talvez um dia, uma geração mais culta e sensível , mais votada ao espírito do que à barriga, mais orgulhosa da sua pertença e da sua identidade, dê o devido valor e importância ao assunto e desenvolva o seu encontro com a nossa história através da criação das réplicas das nossas embarcações tradicionais, que um dia povoaram o varadouro Ancorense. É com essa esperança que abordo o tema.
O “ Lagoa” era, estruturalmente , uma embarcação da classe das baleeiras com proa curva e a popa fechada, sem painel, uma espécie de outra proa. A diferença em relação a uma vulgar baleeira, consistia no facto de o “ Lagoa” ser maior e mais robusto. Possuía caixas de ar e linha de socorros a náufragos, com flutuadores de cortiça revestidos a lona colocados nos dois bordos, a bombordo e a estibordo , ao nível inferior dos alcatrates.
As suas dimensões eram as seguintes:
Comprimento ( entre perpendiculares ) = 9,50 mts.
Boca ( máxima largura a meio da embarcação) = 2,85 mts.
Pontal ( máxima altura a meio ) = 1,30 mts.
Altura da proa e da ré = 1,80 mts.
Peso = 2 000 Kg
Com o barco poveiro há muito tempo extinto do varadouro Ancorense, a gamela ou masseira em fase de extinção e com adaptações de matéria e estrutura que a vão afastando do modelo original, o desaparecimento do salva – vidas “Lagoa” marca o fim das embarcações tradicionais do nosso património histórico – marítimo.
Ao escrever estas linhas, a mágoa invade a minha alma . Um sentimento de impotência ressoa como um grito na solidão do deserto. Com efeito, a indiferença de uns e a resignação de outros , a ignorância daqueles e a desistência destes, é a causa profunda deste estado de alma. Limito – me , pois, a escrever um testemunho para que outros um dia, melhor que nós, saibam resgatar as “ pérolas aos porcos”. Talvez um dia, uma geração mais culta e sensível , mais votada ao espírito do que à barriga, mais orgulhosa da sua pertença e da sua identidade, dê o devido valor e importância ao assunto e desenvolva o seu encontro com a nossa história através da criação das réplicas das nossas embarcações tradicionais, que um dia povoaram o varadouro Ancorense. É com essa esperança que abordo o tema.
O “ Lagoa” era, estruturalmente , uma embarcação da classe das baleeiras com proa curva e a popa fechada, sem painel, uma espécie de outra proa. A diferença em relação a uma vulgar baleeira, consistia no facto de o “ Lagoa” ser maior e mais robusto. Possuía caixas de ar e linha de socorros a náufragos, com flutuadores de cortiça revestidos a lona colocados nos dois bordos, a bombordo e a estibordo , ao nível inferior dos alcatrates.
As suas dimensões eram as seguintes:
Comprimento ( entre perpendiculares ) = 9,50 mts.
Boca ( máxima largura a meio da embarcação) = 2,85 mts.
Pontal ( máxima altura a meio ) = 1,30 mts.
Altura da proa e da ré = 1,80 mts.
Peso = 2 000 Kg
O costado do “ Lagoa “ , ou seja ,o seu corpo de flutuabilidade, era de tabuado trincado ( topos sobrepostos). A quilha, a peça mais importante de qualquer embarcação, a sua espinha dorsal, colocada no sentido longitudinal, era continuada à proa dando forma ao talha – mar, ou roda de proa; à ré , ou popa, o seu seguimento formava o cadaste onde estava fixada a ferragem do leme. As balizas colocadas transversalmente à quilha , eram as peças que formavam o seu esqueleto . Normalmente estas peças subdividiam – se em : caverna, a parte que encosta à quilha; braço, a curva do bojo da embarcação ; e a apostura , a parte da baliza que liga ao braço e onde assentam os alcatrates. No “ Lagoa “ , lembro – me, que as balizas eram constituídas apenas pelas cavernas e os braços, onde assentavam os alcatrates.
Os alcatrates, eram as peças colocadas sobre as balizas para as consolidar e onde eram fixados os bronzes dos toletes para armar os remos , cinco de cada lado do costado aos quais correspondiam cinco bancadas para os remadores. Estas bancadas , eram as peças colocadas na transversal assentes nas extremidades sobre os dormentes e ao meio eram suportadas pelos pés de carneiro, peças de madeira fixadas na vertical tendo por base a quilha.
Os alcatrates, eram as peças colocadas sobre as balizas para as consolidar e onde eram fixados os bronzes dos toletes para armar os remos , cinco de cada lado do costado aos quais correspondiam cinco bancadas para os remadores. Estas bancadas , eram as peças colocadas na transversal assentes nas extremidades sobre os dormentes e ao meio eram suportadas pelos pés de carneiro, peças de madeira fixadas na vertical tendo por base a quilha.
Próximo da linha de água , a vante da boca, em cada um dos bordos havia duas boeiras de forma quadrada , que serviam para escoar a água. Possuía também robaletes, peças pregadas no sentido proa – popa a bombordo e a estibordo na altura do encolamento, ou seja, da curva do bojo do casco e funcionando como atenuadores do balanço, uma espécie de amortecedores.
O leme , que servia para dar governo à embarcação , tinha as ferragens fixadas em sentido oposto às ferragens do cadaste, ou seja, o macho da parte superior do leme com a fêmea do cadaste e a fêmea da parte inferior do leme com o macho do cadaste. Por sua vez, o leme era dividido em três partes: porta, a parte mais larga; madre, a parte que encosta ao cadaste; e cachola, a parte superior do leme onde entrava a cana do leme , uma espécie de alavanca para movimentar o leme ora para bombordo, ora para estibordo.
O leme , que servia para dar governo à embarcação , tinha as ferragens fixadas em sentido oposto às ferragens do cadaste, ou seja, o macho da parte superior do leme com a fêmea do cadaste e a fêmea da parte inferior do leme com o macho do cadaste. Por sua vez, o leme era dividido em três partes: porta, a parte mais larga; madre, a parte que encosta ao cadaste; e cachola, a parte superior do leme onde entrava a cana do leme , uma espécie de alavanca para movimentar o leme ora para bombordo, ora para estibordo.